Absorver

       
       Ela o viu algumas vezes pelos corredores e nunca mais o perdeu de vista. Havia algo nele que a fazia ficar assim fora de órbita. O observou e absorveu. Ela adorava observar as sutilezas, delicadezas que ele sem querer deixava transmitir. Ela podia dizer que o conhecia um pouco a partir dali. Ele era introspectivo e não ligava para o que os outros diziam, se dava muito bem apenas tendo ele mesmo como companhia e parecia passar muito tempo dentro de si. Ele cultuava com os livros, com a filosofia, adorava rock e animais. Ele tinha um pensamento crítico e era bem inteligente para os assuntos que ela tanto gostava de discutir. Ele gostava de apreciar as coisas simples do mundo. Era possível se apaixonar por alguém apenas o vendo? Ela podia dizer que sim. E ela viu isso tudo apenas o absorvendo. Ela se apaixonou por quem ele era por dentro, apesar de também adorar o andar desajeitado e os cabelos despenteados e as mesmas roupas monocromáticas dele. Ele era tudo o que ela sempre quis, era muito parecido com ela em vários aspectos que chegou a deixá-la infeliz.
          Ela tinha a vontade incessante de correr e ser feliz. Dar cara a tapa e falar com ele e ver o que daria a partir dali. Mas nada fez. Estava paralisada de medo de ser feliz. Pela primeira vez deslumbrou o que sempre quis e viu medos que nunca antes pensara em ver. Esses medos a faziam pensar que ela não era tão boa assim, que não era tão bonita assim, que ele nunca olharia para ela. Ela não conseguia ir, porque dentro ela tinha o absorvido, mas tinha medo dele não absorvê-la.
Nataly Olivier Santana

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