Cruel, contemplar sozinho a escuridão

     


      
       No fim nada importa. No fim tudo importa. Você olha para o corpo rígido, com os olhos fechados e um singelo sorriso como se tivesse finalmente ido para um lugar melhor que nós não podemos ver, nem ter acesso, talvez por enquanto. E você observa se perguntando onde ele está agora. Você olha para  o corpo e percebe que nada importa, ele não está mais ali, é apenas um corpo, só isso. E nós não somos esse corpo, nós somos mais. Nosso corpo é só uma morada. Você percebe então o que se carrega dessa vida? O que faz você lutar todo dia para ser alguém melhor? Satisfaz sentir-se bem de algo que não temos certeza. Em casa, um dia, assisti um documentário em que falavam do Big RIP, que seria uma espécie de um novo "Big Bang", que acabaria com grande parte da biosfera, bem criativo, não? O universo se expandido até explodir ou que um novo meteorito vindo em nossa direção. De um tempo tudo irá se extinguir para recomeçar. Recomeçar. Parece que tudo se resume a isso. Sinto às vezes que mesmo depois de irmos, parece que nunca iremos ter descanso, porque não consigo imaginar ter descanso de tudo. Nós estamos aqui para algo a mais, mesmo que não saibamos exatamente o quê, e talvez só vamos saber quando formos. Não parece cruel ter como missão na vida descobrir a razão de tudo? A razão da vida? 
        Eu olho para este corpo, para as mãos finas, pálidas mexendo, pareço estranha, mas sempre me senti assim, como se esse corpo fosse só mais um utensilio que nunca me pertenceu realmente. Imagino, no caso da crença de outras vidas, ser sempre a mesma pessoa, mas em corpos diferentes. O mundo sempre cheio das mesmas pessoas em corpos diferentes tentando algo diferente mesmo sem saber que advém da mesma pergunta e razão de antes.
      Eu sinto o vento bater e meus cabelos balançarem. O vento está frio. Sinto alguns olhares em mim, mas eu não estou mais aqui e me pergunto se estar morto é tipo assim agora; flutuando em cima da cabeça ou estar em paz em outro lugar não existente. Mas como estar em paz? Se é possível? Eu olho para o corpo e me sinto curiosa, até invejosa e que pensamento estranho por saber que ela descobriu o grande segredo... Mas e se o segredo sempre esteve aqui?

Nataly Olivier

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