Show dos horrores


            E haviam me convidado para um aniversário, uma daquelas festas povoadas de gente, metade desconhecida e metade conhecida estranhamente desconhecida. Já havia desistido de ir a esses lugares há algum tempo. Mas, não sei o que deu em mim, talvez, uma falta de entretenimento ou, talvez, a fome mesmo, resolvi ir.
            Fui pensando o caminho todo se era o que eu realmente queria fazer, mas lá no fundo, eu sabia que não. Eu preferiria estar em casa lendo, escrevendo ou pintando, fazendo algo para me preencher. Enquanto chegava ao local soltei um olhar de relance para dentro e senti um arrepio na espinha me percorrer. Já estava ali mesmo, pensei. Desci do carro e entrei vagarosamente no lugar e logo me dei de cara com aqueles corpos andando, aquelas falas e risos vindos de todo canto, ainda bem que estava de óculos escuros um pouco grandes para as pessoas não verem minha cara de espanto. Procurei logo identificar o aniversariante para poder me sentar e pronto. Achei-o dei os parabéns sem saber muito bem como agir, parecia um daqueles robôs programados a se interagir. Dei um aperto de mão, cumprimentei de longe alguns conhecidos, fui para debaixo de uma árvore e sentei em uma cadeira debaixo ali daquela sombra.
            Alguns daqueles conhecidos estranhamente desconhecidos me viram e começaram a sentar perto de mim. Fizeram as perguntas básicas do protocolo de como fingir ser simpático, gentil e que se importa com as pessoas: Como vai? Tudo bom? Como tem passado?. E respondi da mesma forma do protocolo de como fingir estar escutando, pensar realmente se estou bem: “Estou bem.”. Essas perguntas serviam mais como um “inicio de conversa”, algo como “estou dando luz verde para conversarmos”, algo automático, ninguém se importava como você realmente estava se sentindo seu grandessíssimo idiota. Mas eu estava longe de querer passar nesse sinal verde. Falo disso como se falasse para uma criança estúpida porque, na verdade, até pouco tempo eu costumava realmente levar a sério essa pergunta. Eu ingênuo pensando que as pessoas ainda se importavam com o profundo. Acabava sempre recebendo de resposta um sorriso amarelo com uma saída furtiva da pessoa que estava “foda-se como você está, afinal, o que isso importa, não é mesmo? Sua vó morreu? Tadinha, tá, mas agora deixa eu ir ali pegar mais um pouco de refrigerante e comentar como você é estranho por falar de você mesmo, mesmo”. Isso cansa. Você sabe, entender tudo isso, esses manuais, todo esse espetáculo e fingimento.
            Enfim, logo essas pessoas que sentaram perto de mim começaram a conversar entre si, já que eu não havia falado mais nada. Não estava com energia nem para abrir a boca para tentar convencer. Fiquei ali a observar as nuvens, os pássaros até começar a observar elas, sabe, as pessoas. Era uma falando mais alta que a outra, aquilo me doía, me assustava, como se estivessem quebrando algo dentro de mim. Falavam, falavam... sem ter nada a dizer. Observava aquelas palavras flutuando pelo ar a ser perder. Aqueles risos sem dentes. Notava seus olhares hostis lançados a mim de vez em quando como se se perguntassem o que eu fazia ali. Por que raios eu havia de dizer algo se eu não havia nada a dizer? Não entendia. Eu via os olhares incomodados com o fato de eu estar no meu canto quieto e calado, sentado e observando. E isso me incomodava de vez em quando, por isso evitava ir para esses cantos. Às vezes, perguntava a mim mesmo se havia algo de errado comigo, por que eu não conseguia ser que nem os outros? Mas, às vezes, achava bom ser como sou, achava um alívio. Eles que não entendiam a natureza do outro. Eu apreciava o silêncio, a imensidão, o profundo, a solidão. Por que eu ainda fazia esse papel de tentar tentar? Balancei a cabeça e peguei um livro de dentro da minha mochila para ver se eu não virava mais o centro das atenções. Por incrível que pareça, acreditem, uma pessoa quieta no seu canto virava o centro das atenções, sempre pensei que fosse algo mais como uma pessoa dançando em cima de uma mesa, mas tudo bem.
            As pessoas viam e não viam que eu não estava ali. Estava em outra dimensão com os meus próprios balões e observando aquele show, sendo que, pelo que eu havia notado, eu era a aberração. Não sei o porquê da razão, sendo que eu estava sendo verdadeiro com meus desejos e com minha natureza. Eles que estavam naquele espetáculo de egos, fingimentos e mais um monte de merda e besteiras sem pretensões.

Nataly Olivier


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